Batalha da Inglaterra: entenda a resistência britânica na Segunda Guerra

Você já ouviu falar nos caças Supermarine Spitfire ou Messerschmidt? Talvez não, mas foram eles, junto às cidades inglesas bombardeadas, os protagonistas da Batalha da Inglaterra (Battle of Britain). Um dos embates definidores da Segunda Guerra Mundial.

De um lado, a primeira derrota alemã no teatro de guerra, e de outro, o fortalecimento de Winston Churchill e a consolidação da resistência britânica em um contexto em que a Europa continental já estava em grande parte tomada pelo exército alemão.

Se a história militar do século 20 fosse um filme, além de um dos mais longos já feitos, com certeza teria na Batalha da Inglaterra um dos momentos mais marcantes, daqueles em que seu entusiasmo ressurge com a possível virada no destino da guerra que o resultado da batalha parece indicar.

Foi a primeira grande batalha aérea entre duas potências militares e marcou o início das novas táticas e estratégias de bombardeio que seriam utilizadas a partir dali. Vamos conhecer melhor como se desenrolou essa batalha que dominou os céus de boa parte da Inglaterra, do Canal da Mancha e também de partes da Europa continental.

O que foi a Batalha da Inglaterra

A Batalha da Inglaterra é a designação dada a um conjunto de confrontos aéreos, bombardeios e ataques lançados pelas forças aéreas da Inglaterra e da Alemanha, entre julho e outubro de 1940, no contexto da Segunda Grande Guerra e do avanço nazista sobre os países europeus.

A força aérea britânica – RAF (Royal Air Force), e a força aérea nazista (Luftwaffe) travaram uma série de confrontos nos céus do canal da mancha e foram também protagonistas de bombardeios lançados um contra o outro.

Símbolo da Força Aérea Real é reconhecido em todo o mundo. Foto: Mapa de Londres
Símbolo da Força Aérea Real é reconhecido em todo o mundo. Foto: Mapa de Londres

Os planos de Hitler na operação Leão Marinho

A Batalha da Grã-Bretanha, como também é chamada, foi responsável por impedir a concretização da Operação Leão Marinho, nome dado ao plano elaborado pelo Grande Almirante Erich Raeder, comandante da marinha de guerra alemanha (Kriegsmarine) e encarregado por Hitler de planejar como seria o processo de invasão das Ilhas Britânicas logo após a rendição Francesa.

Do ponto de vista da Alemanha nazista, com a derrota da França, maior potência continental da Europa, em pouco tempo a Inglaterra também iria capitular. No entanto, os britânicos contavam com uma força aérea de respeito (embora em quantidade consideravelmente menor) e uma marinha capaz de fazer frente a Kriegsmarine.

Essas condições fizeram com que a destruição da RAF, a Royal Air Force, fosse um pré-requisito para que as forças anfíbias alemãs pudessem de fato empreender uma invasão da Grã-Bretanha, conforme o planejado na Operação Leão Marinho.

Um dos aviões nazistas no Museu da Força Aérea em Londres. Foto: Mapa de Londres
Um dos aviões nazistas no Museu da Força Aérea em Londres. Foto: Mapa de Londres

Ofensivas da Luftwaffe e início da resistência

A Alemanha deu início à ofensiva aérea nas primeiras semanas de julho, com o plano inicial de alcançar rapidamente a superioridade aérea no sudeste da Inglaterra  por meio de intensos ataques por três dias seguidos

Os ataques começaram focando em formações navais britânicas no Canal da Mancha e infraestruturas costeiras. No entanto, graças aos sistemas de radar e aos caças Supermarine Spitfire, bem armados e com capacidade de manobra capaz de fazer frente às aeronaves alemãs,  a RAF conteve o avanço da Luftwaffe e não cedeu a superioridade aérea sob os céus britânicos.

À época, o Radar era ainda uma inovação e representou uma importante vantagem estratégica para RAF ao permitir a identificação da presença inimiga e envio dos caças Spitfire de forma coordenada e eficaz.

Os bombardeios a Londres e a Berlim

Numa mudança de estratégia, a Luftwaffe decidiu focar seus ataques em bombardeios ao solo, haja visto à forte resistência aérea que a RAF vinha colocando. Nesse sentido, foi lançada a operação “Dia da Águia”, na qual tomaram parte mais de mil bombardeios e setecentos caças germânicos.

A Batalha da Inglaterra entrou numa fase dramática com intensos bombardeios ao solo e a  ofensiva alemã prosseguiu com sucesso, causando fortes perdas em infraestruturas de radar e aeronáutica à RAF.

Durante a operação “Dia da Águia” aconteceu um ataque ao porto de Londres, o primeiro ataque à população civil até então. Mesmo com a justificativa alemã de que o bombardeio a Londres fora acidental, a RAF levou a cabo um Bombardeio a Berlim no dia 25 de agosto como resposta, causando um grande efeito moral para os britânicos e surpreendendo o próprio Hitler.

O fim da Batalha da Inglaterra e a sua importância para a Segunda Grande Guerra

A partir do bombardeio a Berlim, Hitler decidiu atacar de forma intensa várias cidades inglesas, não poupando esforços para destruir infraestruturas civis e tentar arrefecer o espírito de resistência da RAF e de Winston Churchill, o que, segundo os planos da Alemanha, levaria em última instância ao rendimento Inglês devido aos intensos ataques e perdas humanas e materiais.

A mudança de estratégia germânica após o ataque a Berlim, no entanto, não teve os resultados esperados. De setembro a outubro, Hitler obteve êxito em seu plano de causar destruição, mas o fato de ter deixado de focar os ataques nas infraestruturas de radares e aeródromos da RAF para se concentrar em atacar as cidades inglesas deu a oportunidade para que a RAF se recompusesse e conseguisse voltar a causar baixas e impor resistência à Luftwaffe.

Em 31 de outubro, a cúpula do governo Alemão decidiu adiar de forma indefinida os bombardeios em larga escala sobre a Inglaterra. Essa data é considerada o fim da Batalha da Inglaterra.

Embora os bombardeios suspensos tenham sido apenas os diurnos, com os ataques noturnos acontecendo em menor escala até o ano seguinte, o recuo alemão representou uma derrota tática e estratégica da Luftwaffe e coroou a resistência britânica que havia adquirido tons dramáticos com os bombardeios indiscriminados às cidades inglesas.

A derrota alemã nos céus britânicos foi um impulso fundamental para os ingleses, que até a invasão da União Soviética pelos nazistas, na chamada Operação Barbarossa, eram a única potência a fazer frente às forças germânicas. A resistência imposta na batalha da Inglaterra também foi determinante para a abertura do front oriental da guerra, com a invasão da União Soviética. Um fator que trouxe para o teatro de Guerra mais um ator de peso e colocou pressão extra sobre o exército alemão.

Foram só alguns meses de batalha, mas dá pra imaginar o tamanho de um filme para contar cada passo dramático no teatro de operações, não é mesmo? A Batalha da Inglaterra foi um momento definidor para o rumo da Segunda Guerra Mundial, e esperamos que esse texto também tenha marcado o seu interesse no assunto e tenha sido proveitoso.

Bravura dos combatentes britânicos deu moral aos aliados. Foto: Domínio público
Bravura dos combatentes britânicos deu moral aos aliados. Foto: Domínio público

E se você ficou curioso para conhecer mais detalhes sobre esse conflito e sobre a resistência britânica nesse momento da Grande Guerra, vai querer conhecer o museu sobre o qual falamos abaixo. Ele mostra em detalhes por que Churchill disse as seguintes palavras em referência à Força Aérea Real Britânica: “Never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few” (algo como “Nunca no campo do conflito humano tanto se deveu por tantos a tão poucos“).

Batalha da Inglaterra no museu da Força Aérea Real

Se você se interessa pela história da Batalha da Inglaterra e outros conflitos bélicos envolvendo a Royal Air Force, então não deixe de visitar o Museu da Força Aérea Real em Londres. O espaço reúne aviões britânicos e nazistas, helicópteros, tanques, armamentos, maquinário e muitas histórias de heroísmo e superação dos pilotos combatentes no conflito.

Confira: Como visitar o Museu da Força Aérea em Londres

Artigo anteriorO que é a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes no Parlamento do Reino Unido
Próximo artigoO Discurso do Rei e a história de George VI, o pai de Elizabeth II