Se existe uma religião da Inglaterra, ela é a Igreja da Inglaterra, a Church of England (mais conhecida no Brasil como Igreja Anglicana), que tomou forma a partir da cisão com Igreja Católica.
A história é relativamente famosa: o Rei Henrique VIII queria se separar de sua esposa e, sem o consentimento do Papa, decidiu “fundar” sua própria religião, a Igreja da Inglaterra. Essa é uma simplificação, claro, mas resume o que aconteceu.
Na verdade, já existia igreja na Inglaterra, só que de orientação Católica, submetida ao Vaticano. Lembre-se, nessa hora, que o Império Romano perambulou pela Grã-Bretanha já no século 1 e, com ele, vieram os cristãos.
Mas a origem da religião da Inglaterra remete ainda à cultura celta, sabia?
Então, quer saber mais sobre a Igreja da Inglaterra e o que a religião representa para os ingleses? Ao longo das próximas linhas, explicamos um pouco do histórico e contextualizamos como a Igreja Anglicana se consolidou na sociedade inglesa.
História da Religião da Inglaterra
No século III, quando a Bretanha era apenas mais uma região dominada pelo Império Romano, a religiosidade já aflorava na sociedade.
A história data a conquista da Bretanha em 43 d.C, mas a nomenclatura da região passou a ser aplicada às Ilhas Britânicas, localizadas ao sul da Muralha de Adriano, construída pelos romanos. Posteriormente, essa primeira região da Bretanha passou a ser conhecida como Albion.
A religião entra nesse contexto antes mesmo do período pré-Romano, com o paganismo, que era uma espécie de corrente menosprezada e tratada como pejorativa pelos católicos.
A Igreja, que estava em plena catequização da Europa, viveu um momento crucial no ano 312, quando o imperador Constantino se converteu ao cristianismo e ajudou a popularizar a religião no território onde hoje se localiza a Inglaterra.
Por mais de mil anos, o cristianismo era a principal doutrina do povo britânico, alternando com o pelagianismo, credo considerado como heresia em 418 d.C.
Apenas no século XVI, com a Reforma Inglesa, consequência da Reforma Protestante de Martinho Lutero, a Igreja da Inglaterra se afastou da influência do Papa e da Igreja Romana.
A Igreja Anglicana teve em Henrique VIII seu fundador, mas por um motivo curioso: o rei pretendia anular a sua união matrimonial com Catarina de Aragão e enfrentou diversas barreiras políticas e religiosas, sobretudo a oposição dos romanos. O intuito era que o rei pudesse se casar legalmente com Ana Bolena, com quem pretendia ter herdeiros.
Além de tentar expurgar as raízes romanas da Igreja Anglicana, Henrique VIII também ordenou que houvesse uma grande dissolução de mosteiros entre 1536 e 1540, se apropriando de conventos e priorados. Na época, essas comunidades religiosas eram concentradas em partes muito ricas do território inglês.
A venda das propriedades refletiu uma medida econômica, não necessariamente de intolerância religiosa. Como a maioria dessas comunidades se localizava em setores muito valorizados, era muito rentável para a coroa liquidá-las, a fim de financiar operações militares lideradas por Henrique VIII.
Para acabar com o domínio romano, sobretudo no que se referia à arrecadação de contribuições feita por Roma, Henrique VIII conseguiu aprovar em 1534 um ato parlamentar que o considerava o representante máximo da Igreja na Inglaterra, conferindo a ele poderes jurídicos e religiosos, anulando de vez a influência romana naquela área.
Pela sua postura em relação à Igreja Romana, Henrique VIII foi excomungado pelo Papa Paulo III. Ao mesmo tempo, o monarca da Inglaterra passou algum tempo de seu reinado considerando que os católicos romanos e protestantes eram hereges, levando a diversos julgamentos.
Religião da Inglaterra x Igreja Católica
Com a criação da Igreja Anglicana, a monarquia inglesa tinha maior autonomia sobre a religião local, inclusive para decidir sobre mudanças na doutrina. Com o passar dos anos, em especial no reinado de Eduardo VI, a Inglaterra se inclinou ao protestantismo, obedecendo às regras ditadas por Thomas Cranmer, Arcebispo da Cantuária, figura importantíssima na Igreja da Inglaterra.
Entre 1549 e 1552, o Livro de Oração Comum serviu como modelo para a Comunhão Anglicana na Inglaterra, com base na liturgia de Jerusalém, composta por São Tiago.
Contudo, as preces também atendiam ao modelo protestante, uma marca indissolúvel no período de Eduardo VI. A doutrina-base se alterou diversas vezes, com ou sem conflito, ao longo da história da religião na Inglaterra.
Nos primeiros anos da Reforma Inglesa, protestantes foram perseguidos, mas a situação se amenizou com o Ato de Supremacia de 1559, outorgado por Isabel I. A rainha, chefe suprema da Igreja Anglicana, pregava tolerância religiosa entre católicos e protestantes. Chegava ao fim a turbulenta era de repressão.
Por outro lado, o ato de Isabel I também previa lealdade obrigatória à monarquia, forçando católicos a renegarem suas crenças e a lealdade ao Papa, chefe da igreja romana.
Para que qualquer católico ocupasse um cargo público, era preciso renunciar ao catolicismo. Nesse momento, o Estado entrava em conflito político com a Igreja, na concepção cristã.
Como é a Igreja da Inglaterra hoje
A Rainha Elizabeth II é a chefe da Igreja da Inglaterra, embora não tenha grandes poderes sobre os rumos e dogmas da religião. Em seu lugar, o Arcebispo da Cantuária é o representante da Igreja Anglicana nos dias de hoje.
A Igreja Anglicana era totalmente protestante até o século 19, quando o Movimento de Oxford restaurou as origens e orientações do catolicismo romano. Isso culminou com a divisão entre Alta e Baixa Igreja, opondo novamente (mas de forma pacífica) as vertentes católicas e protestantes.
Pelo fato do catolicismo e o protestantismo coexistirem na Igreja Anglicana, a congregação ostenta uma imagem de maior tolerância dentro da Inglaterra, afastando-se da imagem que se tinha da Igreja durante a Idade Média, com histórico de opressão e perseguição.
Muito embora o modelo seja muito mais conciliador e traga referências fortes de ambos os dogmas, a base da Igreja Anglicana continua sendo o cristianismo. No censo de 2011 na Inglaterra, foi apontado que 59,4% da população da Inglaterra segue os princípios do cristianismo, enquanto 24,7% não possuem religião. Outros dados relevantes desta porcentagem se referem ao islamismo (5%) e ao hinduísmo (1,8%).
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