Longe do Brasil há quase 12 anos, Marcos Losekann, 45, é um correspondente internacional insatisfeito. Não por causa do cargo, no comando do jornalismo da Rede Globo em Londres, mas devido a sua preferência clubística. “Sou um correspondente gremista”, avisa em seu perfil do Twitter um dos mais internacionais jornalistas brasileiros, pouco afeito à possível relação de sua função com o nome do rival, o Colorado.
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O bom humor permeia o discurso do gaúcho, natural de Independência, na rede social. Nem parece, em alguns momentos, o profissional compenetrado e arguto, de fala clara e imagética da televisão, cujas primeiras expedições investigativas para o exterior ocorreram no início da década de 1990. Na época, Losekann era correspondente da região amazônica, incluindo os países vizinhos. O conflito entre Equador e Peru, em 1994, revelou sua habilidade como jornalista de guerra, lapidada posteriormente.
O trabalho em Londres começou em 2000. Losekann exerceu o cargo de correspondente na capital britânica até 2004, quando se transferiu para a conturbada Jerusalém, onde se embrenhou no combate entre israelenses e palestinos. Lá viveu uma das situações mais perigosas de sua carreira, ao escapar de mísseis disparados pelo Hizbollah, em 2006. Em 2007, foi convidado para voltar a Londres, desta vez como correspondente-chefe da Rede Globo.
Embora esteja sediado na capital britânica, Losekann não se furta de cobrir os principais acontecimentos mundiais. Em 2008, por exemplo, o correspondente foi detido por membros do partido político Hizbollah, reconhecido por sua atuação miliciana, e expulso do Líbano. Ele também visitou os destroços de Chernobyl e foi atrás do esconderijo de Osama Bin Laden, no Paquistão.
Depois de tanto tempo em Londres, Losekann não age mais como turista. “Quem vem visitar geralmente quer ver coisas de destaque, que estão ‘bombando’. Eu já vi tudo isso”, comenta o jornalista, que prefere assistir a musicais a buscar o melhor ângulo das obras da National Gallery. Mas não adianta. A convivência com o fog londrino não lhe alterou a inclinação climática: “Quanto mais sol, melhor”.
Na entrevista abaixo, realizada por e-mail, o jornalista fala sobre a sua carreira e relação com Londres.
Tu disseste em outra entrevista que não foi tu quem escolheste o jornalismo, mas o jornalismo é que te escolheu. E Londres, tu escolheste?
Não houve uma escolha. Fui convidado pelo diretor de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade (na época, da CGJ – Central Globo de Jornalismo) para o cargo de correspondente em Londres.
Provavelmente, a posição de correspondente em Londres é uma das mais cobiçadas. No exercício da tua profissão, preferes a capital britânica, em aparente tranquilidade, ou uma região normalmente mais conturbada, como o Oriente Médio?
Gosto de dar notícia, seja onde ela estiver: na ‘’pacata’’ Londres ou na agitada Jerusalém, por exemplo.
Como será a cobertura da Globo das Olimpíadas de Londres em 2012, que possui, em TV aberta, direitos exclusivos da Record? Como a Globo em Londres se prepara para o evento?
Não sou diretamente ligado à CGESP (Central Globo de Esporte). A minha Central é a CGJ (Central Globo de Jornalismo). Desse modo, pelo menos até agora, nada especificamente eu soube a respeito da cobertura das próximas olimpíadas. Só sei que, como repórter, estou a postos, como sempre, para o que der e vier.
Para ti, essa exclusividade, tanto da Record neste evento quanto da Globo em outros, pode atrapalhar a qualidade da informação que chega ao telespectador?
Só existe exclusividade porque alguém vende os direitos. E quem faz isso, no caso de uma olimpíada, é o COI (Comitê Olímpico Internacional) – o organizador do evento. Numa Copa do Mundo é a Fifa… E assim por diante. Isso é de praxe. Mesmo aqui na Europa, não são todos os canais que detêm os direitos sobre eventos esportivos. Portanto, não se trata de uma situação unicamente brasileira. De qualquer forma, não acho que o espectador perde. Só perde se o veículo que tem a exclusividade de transmissão das provas e de trânsito nas áreas restritas (vila Olímpica) não fizer um bom trabalho.
O chefe de jornalismo da Globo em Londres consegue ter (ou descrever) uma rotina diária?
A rotina em Londres é muito dependente dos fatos, das pautas… Aliás, como é a rotina de qualquer redação no planeta. Tudo depende da notícia. Se tem mais notícia, tem mais trabalho. E vice-versa. E bom repórter não espera notícia cair do céu. Então quando é período de calmaria, de ‘’vacas magras’’, é hora de procurar pautas não factuais… É o que fazemos em Londres e em toda a Globo como um todo.
Dá tempo de visitar pontos turísticos, passear em museus, conferir a exposição do Da Vinci na National Gallery, enfim, aproveitar longe do trabalho uma das capitais mais efervescentes do mundo?
Dá tempo de um jornalista em SP ou do Rio aproveitar a cidade em que vive? Dá pra ir ao Maracanã de vez em quando? E ao Ibirapuera? Se dá no Brasil, também dá aqui… De vez em quando… (risos).
Qual seria o teu TOP FIVE de atrações em Londres?
Depende muito. Acho complicado responder isso, porque moro aqui há 11 anos, e minhas preferências não servem de base, por exemplo, para um turista, pois quem vem visitar geralmente quer ver coisas de destaque, que estão ‘’bombando’’. Eu já vi tudo isso. Agora, de vez em quando, levo um visitante a algum lugar que já conheço (quando recebo a visita de um parente ou amigo, por exemplo). Já eu… Bem, eu gosto de musicais (sempre que tem um lançamento, procuro assistir). E gosto de passear à toa nos grandes parques londrinos (também costumo correr, já que esse – corrida – é o meu modo de fugir do sedentarismo). No mais, faço aqui, como dito, como qualquer cidadão faz em sua cidade: vou ao cinema, saio para comer fora, etc. Nada, absolutamente, demais. Ah, também faço programas infantis (parques de diversões, etc), já que tenho duas filhas ainda pequenas.
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Como (e onde) fica a tua família agora e como era no tempo em que tu moravas em Jerusalém?
Quando eu morava em Jerusalém a minha mulher ainda fazia mestrado em Londres. Assim, dos três anos vividos na ‘’Terra Santa’’, só moramos juntos no último, quando ela terminou os estudos em Londres. Nos dois primeiros anos, foi ‘’ponte-aérea’’, mesmo. Como não tínhamos nossas filhas, tudo bem… Agora moramos todos juntos, na mesma casa, em Londres. Somos uma típica família anglo-brasileira.
E hoje, preferes os parques cobertos de neve ou cobertos de londrinos aproveitando os raros momentos de sol?
Quanto mais sol, melhor.
E como tu acompanhas o Grêmio e tudo que deixaste no Brasil?
Pela internet, consigo assistir à Globo e a todos os demais canais brasileiros. Acompanho os jogos, portanto, no computador. Também vejo alguns na Globo Internacional (quando passam jogos do Grêmio), bem como me atualizo via internet (sites, twitter, etc). Hoje em dia é fácil, com tantos meios de comunicação disponíveis, né?
Encaras o trabalho no exterior como uma etapa da vida e da profissão ou como uma vocação?
Minha vocação, creio, é o Jornalismo. Onde exerço jornalismo é só um detalhe geográfico.