Uma imersão cultural de nove anos está prestes a acabar. Correspondente do SBT na capital britânica desde 2005, o jornalista Marcelo Torres, 36 anos, verá concretizado, em setembro deste ano, o desejo de voltar a morar e trabalhar no Brasil.
O laço profissional do correspondente com Londres começou em 2002, quando ele ingressou em um curso de mestrado de jornalismo internacional na Universidade de Westminster. De volta ao Brasil, passou em processo seletivo da BBC. Em 2004, então, principiou o trabalho na emissora britânica e, um ano depois, migrou para o SBT.
Como voz e rosto do SBT em Londres, Torres já figurou no palco de diversos acontecimentos. Nos últimos tempos, por exemplo, estava lá quando o Príncipe William se casou com Catherine Middleton; quando os bruxos de Harry Potter desfilaram pel tapete vermelho pela última vez, na Trafalgar Square; quando o prefeito, Boris Johnson, anunciou, aos brados, a contagem regressiva de um ano para a realização das Olimpíadas em Londres; e, enfim, quando baderneiros incompreendidos ou incompreensíveis passaram a saquear lojas e destruir a capital e cidades vizinhas.
Antes de se despedir de Londres e empunhar o microfone do SBT em São Paulo, Torres conta para os leitores do Mapa de Londres como foi o início na BBC, explica sua rotina atual como correspondente e dá dicas para quem quer visitar a capital britânica.
1. Como foi o início de sua carreira na BBC?
Passei numa seleção, como ocorre com todas as pessoas que ingressam na BBC. Foi um período muito rico, de muito aprendizado. Tive a chance de conviver com grandes profissionais e aprender muito do que eu sei sobre jornalismo internacional.
2. E agora no SBT: existe uma rotina para o correspondente sediado em Londres?
Como ocorre com qualquer repórter, rotina é algo que quase não existe, com tudo de bom e de ruim que isso tem. Geralmente, começo meu dia lendo jornais brasileiros e britânicos e, até o meio-dia, já tenho um cardápio para sugerir ao SBT. Quando tenho reportagens pré-aprovadas, saio o quanto antes para fazer entrevistas. No fim do dia, em contato com São Paulo, coordenamos o fechamento e envio das reportagens.
3. Existe ainda alguma dificuldade de reconhecimento e credenciamento por trabalhar como jornalista do SBT tão longe de “casa”?
Ser jornalista estrangeiro tem uma série de dificuldades, principalmente pelo fato de que, fora do país de origem, é mais difícil convencer potenciais entrevistados sobre o peso do seu veículo. Em Londres, a industria de mídia é muito profissional e competitiva. Sendo assim, é preciso atuar com alto grau de conhecimento desse mercado e profissionalismo para que certas portas se abram.
4. O que você acha do jornalismo britânico atual? Recentemente, o News of the World fechou após a descoberta de que seus repórteres grampeavam figuras públicas para obter informações a seu respeito.
Os tabloides existem há bem mais de um século e sempre foram escandalosos. Então, não me surpreendem, apesar de o recente escândalo dos grampos ter ido muito além do aceitável, até mesmo para os padrões do submundo jornalístico. Mas, se pensarmos que foi um outro grande jornal, o Guardian, que escancarou toda essa lama, vemos que o jornalismo britânico segue plural e vigoroso.
5. Acha que Londres está se preparando devidamente para as Olimpíadas?
Acredito que sim. Todas as notícias sobre o Parque Olímpico são de que as obras serão entregues antes do previsto, e o sistema de transporte também parece adequado para receber o evento.
6. Se um amigo diz para você que está indo para Londres, quais são as suas recomendações?
Como turista? Se tiver só três dias, desça em Westminster, explore as atracões turísticas ao redor, vá à National Gallery, ao British Museum, aos museus de South Kensington e à Tate Modern. Assista a um musical e, se tiver a sorte de pegar um dia quente e ensolarado, se espreguice na grama do Regent’s Park.
Se um amigo meu quiser morar um tempo em Londres, sempre esclareço que vale muito a pena pela experiência cultural, mas Londres, por si só, não melhora o inglês de ninguém, dado o número de estrangeiros, nem muito menos deixa ninguém rico. Mas, com disciplina e determinação, é possível ter uma temporada produtiva na cidade, fazendo sempre um esforço para se inserir ao máximo na cultura local, ter o desprendimento necessário para morar mais apertadinho, dividir apartamento, etc. Vale a pena se o interesse for, de fato, abrir-se a uma nova cultura e explorar novas maneiras de ver o mundo.
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