Ansiedade da imigração em Londres

Ansiedade da imigração em Londres
Foto: Paul Campbell, sxc.hu

A ansiedade pela imigração em Londres não começa no planejamento, mas na hora da decolagem.

Até o avião deixar o solo, você está compenetrado em renovar o passaporte, em conferir documentos, arrumar as malas, rearranjar o roteiro de viagem, verificar pela centésima vez as dicas do Mapa de Londres, se informar sobre o travel cheque, avisar o pessoal do cartão de crédito que você está indo para a Europa…

Mas, com o cinto devidamente afivelado e o primeiro solavanco, surge a inquietação que só será suplantada quando você sair ileso do aeroporto de Heathrow: “E se o pessoal da imigração me mandar de volta para o Brasil antes que eu possa dizer God Save the Queen?”.

Nada de trabalho

A imigração inglesa apresenta uma peculiaridade: embora não exija vistos de brasileiros, amarga a péssima reputação de deixar viajantes horas em salas de espera, fazer-lhes 2 mil perguntas e até de recusar-lhes a entrada no país sem grandes explicações.

Essa reputação não é de todo merecida. Primeiramente, há que se entender que muitos brasileiros chegam ao Reino Unido com o único propósito de arrumar dinheiro em terras britânicas e sem saber uma palavra do inglês.

Algum tempo atrás, metade dos passageiros de alguns voos era rebocada de volta ao seu país de origem. Devido ao advento econômico do Brasil, essa situação não é mais comum. Resguardadas as proporções, Londres está mais em crise do que o Brasil.

Mesmo assim, os oficiais da imigração ainda perscrutam cada brasileiro como se fosse o último. Por isso, é bom levar todos os documentos necessários e, de preferência, não ter nenhuma pretensão de lavar pratos ou fazer carreira no Burger King de Londres.

Até porque hoje nem estudantes podem mais trabalhar legalmente aquelas 4 horas diárias facilmente dribláveis.

Paranoia

A minha primeira experiência foi a mais angustiante. Naquele caso, aos 18 anos, eu estava embarcando para Londres a fim de passar seis meses estudando inglês na cidade. Eu estava tão nervoso, que comecei a perambular em um terreno mental muito próximo à paranoia.

Quando a comissária de bordo me pediu para afivelar o cinto, eu relutei, pois captei algo em seu olhar. Era como se cada uma das comissárias estivesse me analisando: “Seriam agentes da imigração disfarçadas?”.

Até um senhor gordinho na poltrona ao lado me pareceu suspeito. “É sua primeira vez em Londres?”, me perguntou. Quase disse que não, que já tinha perdido as contas de quantas vezes havia visitado a capital britânica.

Tratei de interromper logo a conversa e me concentrar no meu livro. Por azar, um personagem da história perdia o voo com destino a Paris por um erro do pessoal da companhia aérea.

Apesar de o episódio literário não conter a mínima relação com a minha situação real, tive certeza de que aquele era um mau presságio.

Perdido

Amedrontado, parei de ler o livro, mas não consegui dormir até a aterrissagem. Abalado mental e fisicamente, tive problemas antes de chegar até a imigração. Sem muita orientação, fui me movendo entre outros passageiros até que cheguei a uma fila. Esperei, esperei, esperei.

Até que tive a salutar ideia de perguntar a um segurança se eu me encontrava no lugar certo. Obviamente, não: estava bem longe, prestes a embarcar (não me pergunte como) em um outro voo.

A confusão serviu para incrementar ainda mais meu pessimismo. Ao encontrar a fila certa, já me perguntava se teria de pagar o meu retorno antecipado ao Brasil ou se ganharia a volta de graça, junto com o carimbo de entrada negada no passaporte.

De nada ajudou ver uma brasileira chorando em um dos guichês destinados a estrangeiros (europeus fazem um caminho diferente).

Wendy’s

Minha vez chegou mais rápido do que eu queria. Precavido, eu possuía em mãos uma pastinha contendo cópia da matrícula na escola de inglês, carta do meu empregador no Brasil, comprovantes bancários, cartas dos meus pais, dinheiro e tudo mais que o oficial da imigração poderia imaginar.

A primeira pergunta foi: Por que você veio para Londres? Minha reação inicial (apenas mental, e logo refreada) foi pensar: Não interessa o que eu vim fazer, foi uma péssima ideia. Pode me mandar embora.

Mas eu me contive, respondi que desejava aprimorar meu inglês e depois viajar pela Europa. Ela pediu a matrícula na escola e perguntou onde eu ficaria. Respondi tudo, entreguei os comprovantes e recebi o carimbo.

“That’s it”, perguntei eu, incrédulo, apenas três minutos depois do início do interrogatório. “Yes, welcome to London”, ela respondeu. Recomposto, encerrei minha participação com uma indagação: “Tem McDonald’s no aeroporto?”. Infelizmente, só havia Wendy’s.

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