Estreia nesta segunda, dia 17 de junho, em Londres, a exposição A arte gráfica dos filmes de Harry Potter, com imagens de elementos gráficos usados em toda a série. A criação, uma colaboração entre Miraphora Mina e Eduardo Lima, pode ser apreciada na Coningsby Gallery até o dia 28 deste mês.
Morando em Londres desde 2001, Eduardo Lima, 39, designer gráfico de Harry Potter, concedeu entrevista ao Mapa de Londres sobre seu trabalho, sua vida na capital britânica e como é realizar o sonho de unir duas de suas paixões, o cinema e o design.
Foi uma outra paixão, pela cidade de Londres, que o levou aos filmes de Harry Potter. A magia começou em 1997, quando ele decidiu passar uma temporada na capital britânica estudando inglês. A viagem, que deveria durar três meses, se prolongou por dois anos. Às aulas, somaram-se bicos de garçom e bartender. Em 1999, findo o visto de estudante, Lima embarcou para o Brasil. Mas com um objetivo em mente: retornar para Londres o mais cedo possível e desenvolver sua carreira no Reino Unido.
Mineiro, formado em Comunicação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Lima morava no Rio de Janeiro quando foi convidado para trabalhar no documentário “Anésia – Um Voo no Tempo”, da diretora Ludmila Ferolla. “Conversando com a Ludmila, eu contei do tempo que passei em Londres e expliquei do meu plano de voltar”, conta o artista. “Isso era o meu sonho: poder juntar o cinema, que é a minha maior paixão, com o design gráfico, que é a minha profissão”.
Ludmila era amiga de Miraphora Mina, designer que estava ingressando em uma produção inglesa. “Ela me passou os contatos da Mira e me disse que ela estava trabalhando num filme sobre um ‘menino bruxo’”, explica Lima, que ainda não conhecia a história de Harry Potter na época.
Em 2001, assim que obteve o passaporte português, Lima embarcou para Londres. Logo escreveu para Miraphora e marcou uma reunião. “Lá vou eu, com o meu portfólio na mão e muito ansioso. Pensava comigo: eu, mineiro, da pequena cidade de Caxambu, indo a um estúdio de cinema, em Londres, aonde uma megaprodução estava acontecendo – não estava acreditando. Era um sonho! Cheguei ao Leavesden Studios, um lugar a princípio nada glamouroso – costumava ser uma fábrica de aviões da Rolls-Royce e havia sido transformado em estúdio de cinema -, entrei no departamento de arte e fiquei simplesmente maravilhado.
Assim, em Harry Potter e a Câmara Secreta, Lima começou a estagiar com Miraphora. “It was magic at first sight!”, lembra. “Talvez por obra do destino novamente, a gente se conectou muito bem e rapidamente. Era como se a gente já se conhecesse há muito tempo”. Logo no filme seguinte, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Lima ganhou um cargo permanente, como designer gráfico.
Essa é uma das razões para que o longa seja um de seus preferidos. “Foi o meu primeiro filme numa posição permanente e também acho que foi o filme que revolucionou a série. Com a entrada do diretor Alfonso Cuarón, muitos aspectos mudaram. Ficou mais escuro e muito mais assustador!”, afirma.
Mas cada filme impunha desafios diferentes, lembra. “Por exemplo, em Harry Potter e o Enigma do Príncipe, tivemos que criar a loja dos irmãos gêmeos, Fred e George Weasley. Eram quatro andares de loja para serem cobertos de caixas e produtos. Tivemos que inventar mais de 100 produtos malucos e criar todos os graphics para a loja. Foi um sonho para qualquer designer gráfico. Uma pena que a cena foi muito rápida e não deu para ver tudo o que a gente criou e ver como tudo era muito detalhado”.
A preocupação estética em cada fonte e em cada traço é explicada por Lima: “A atenção ao detalhe era fundamental. Por exemplo, todos os livros e jornais que criamos, mesmo que não fossem abertos em cena, continham páginas com conteúdo e com design. Tudo isso foi importante para fazer com que esse mundo mágico e fantástico do Harry Potter se tornasse de alguma maneira mais real”.
O Profeta Diário era um desses elementos que ganhava vida através de seus detalhes. Trata-se da criação dos filmes que mais orgulha o artista, que construiu mais de 50 exemplares do jornal. Cada edição tinha todas suas páginas internas elaboradas, de notícias sobre o paradeiro de Sirius Black ao horóscopo.
Nos filmes, porém, a breve exposição das páginas não permite ao espectador sorver todo o seu conteúdo. Há peculiaridades que passam despercebidas, como as referências de Lima a sua cidade Natal. “Por exemplo, tinha uma matéria que o título era ‘Reunião do G8 and ¾ vai ser realizada em Caxambu”, revela o artista, que conferiu à mãe o cargo fictício de repórter especial do Profeta Diário. E, como servia de sede para importantes encontros políticos, Caxambu sempre figurava na previsão do tempo do jornal.
A mudança de visual do quarto para o quinto filme deve ter chamado a atenção dos fãs. Nos quatro primeiros longas da série, o jornal tinha uma estética mais gótica e mais suave, lembra o artista. A partir do quinto filme, Harry Potter e a Ordem da Fênix, o design tornou-se mais denso e complexo. É quando o Ministério da Magia toma o controle do jornal, o que leva a sua integridade a ser questionada. “Para melhor contar essa mudança, fomos procurar inspiração no estilo gráfico usado durante a Revolução russa no início do século 20 – ‘the russian propaganda’, estilo esse marcado por uma tipografia mais robusta, forte e agressiva”, diz Lima.
A busca e a sobreposição de referências visuais de épocas e lugares diversos foi ainda mais intensa devido à natureza da obra. “O mais incrível nos filmes do Harry Potter é que tudo se passa em um mundo mágico, paralelo ao nosso”, diz o artista. “Assim, apesar de vários objetos de cena e cenários se basearem em elementos e lugares reais, nós tínhamos a liberdade de criar, aumentar, misturar e inventar em cima disso. Podíamos combinar o estilo gótico, barroco, letterpress, gráfica vitoriana ou uma referência de alquimia do século 16 com o estilo gráfico dos anos 30 ao 60. E o resultado desse conglomerado de informações e referência tão diversas, no contexto do universo de Harry Potter, funciona”.
Exposição
Agora todos esses detalhes podem ser conferidos de perto pelos fãs da série. No ano passado, Eduardo Lima e Miraphora Mina, a dupla MinaLima, obteve licença da Warner Bros para reproduzir todos os trabalhos de design gráfico criados para os filmes em art prints, com edição limitada. “O nosso objetivo com o Printorium era de poder mostrar, pela primeira vez, vários designs que foram feitos para os fimes e que não aprecem na tela ou, se aparecem, é muito rápido”, explica Lima. Ao todo, quase 70 imagens fazem parte da exposição.
Em Londres
Como um apaixonado por Londres (até pelo clima, garante), Eduardo Lima busca, no escasso tempo livre, programas culturais, como idas ao teatro e aos museus. Seu favorito é o Victoria & Albert Museum. Entre os parques da cidade, o artista destaca o idílico Hampstead Heath. Além desses passeios, ele ainda destaca o East London (“agora é um lugar superbacana, interessante e bastante inovador”), caminhadas pelo South Bank e os lugares altos da cidade (“para ver o skyline de Londres”).
Pós Harry Potter
Apesar do fim da série, o trabalho da MinaLima ainda revolveu por um bom tempo acerca do bruxinho. Durante dois anos, o estúdio se dedicou ao desenvolvimento gráfico da expansão do parque temático do Harry Potter na Universal Studios, em Orlando (EUA). “Vai ser absolutamente fantástico! Os fãs vão ficar alucinados. Vai ter a Diagon Alley e o Hogwarts Express de verdade!”, exulta Lima. E agora, com o caminho aberto pelo sucesso da franquia, a mágica da MinaLima poderá ser conferida em breve em outros filmes.
Confira: Site da MinaLima
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Exposição da arte gráfica de Harry Potter