Incautos devem ter se surpreendido na semana passada ao avistar um indivíduo alto, de cabelos desgrenhados, com o dedo em riste, anunciando a contagem regressiva de um ano para os Jogos Olímpicos de Londres, em meio a diversas piadinhas e referências irônicas ao relógio postado na Trafalgar Square.
Ele falava em uma tribuna, diante de uma multidão e ao lado de lideranças políticas e do primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Seu nome é Boris Johnson, e sua figura tende a ser, cada vez mais, conhecida em todo o mundo, pois esse americano de 47 anos configura-se como o prefeito de Londres, sede das Olimpíadas de Verão na metade de 2012.
Boris Johnson nasceu em Nova York, em 1964, e se mudou com a família para Londres aos cinco anos de idade. Começou a carreira como jornalista no The Times e depois passou pelo Wolverhampton Express, pelo Daily Telegraph e pelo Spectator. Em 2001, foi eleito para o parlamento britânico e, em 2008, para a prefeitura da capital, pelo partido conservador. Recebeu, na ocasião, a maior votação de mandato pessoal na história do Reino Unido e derrotou o adversário trabalhista e ex-prefeito da cidade, Ken Livingstone.
As ideias de Boris Johnson não são tão conservadoras quanto as de seu partido. Se por um lado o prefeito decretou a proibição da bebida alcoolica nos meios de transporte público da capital britânica logo no primeiro ano do mandato, por outro manteve o cabelo desgrenhado, o terno usualmente desajeitado e o discurso informal que o caracterizou durante a campanha, sempre fazendo referências irônicas e contando piadas durante suas falas para a imprensa.
Na China, em Beijing, no mesmo ano, ao receber a incumbência de sediar os Jogos quatro anos depois, Johnson deu um discurso dizendo que o ping pong estaria voltando para casa, porque teria sido inventado pelos ingleses.
O discurso parece ser a grande marca desse político excêntrico. Prova disso foi o anúncio da contagem regressiva de um ano para as Olimpíadas de Londres.
Nele, o prefeito garantiu as locações dos Jogos estavam tão prontas, que a cidade poderia convocar as Olimpíadas de uma hora para outra e pegar o mundo inteiro dormindo, de surpresa.
Além dos trejeitos peculiares e da proibição ao álcool no ônibus, no metrô e no trem, o prefeito de Londres ficou conhecido pela instituição do aluguel de bicicletas, pela criação do projeto do novo ônibus da cidade e pelas manifestações frequentes a favor de projetos ambiciosos, como o Teleférico sobre o Rio Tâmisa, a Calçada Flutuante e, mais recentemente, o aeroporto internacional no estuário do Rio.
O constante embate entre a Londres tradicional, que cultiva suas origens, e a inovadora, que lidera as tendências, é encarnada plenamente pelo seu prefeito. O resultado dessa equação só será conhecido após as Olimpíadas de Londres, em 2012, quando se saberá se os esforços financeiros e políticos pela execução perfeita do evento e pelo aproveitamento total das estruturas deixadas pelos Jogos, principalmente no leste da cidade, valeu a pena.
Então, Boris Johnson poderá ser crucificado pelas controvérsias de seu mandato, como a participação do chefe de polícia no esquema de grampo de telefones do News of the World, ou congratulado pelas benesses das bicicletas, do ônibus e do esporte em seu plano de governo.