O que é uma Cerveja Stout: história, curiosidades e Guinness

A cerveja Stout é um tipo escuro e forte, pouco apreciado no Brasil. Tem amargor puxando para o café e malte torrado, em uma composição mais complexa do as lagers comerciais com as quais estamos acostumados. É mais popular em países frios, especialmente no Reino Unido e na Irlanda, onde ela se originou. Sua representante mais famosa é a Guinness, criada na metade do século 18. Neste post, vamos descobrir como é uma cerveja desse tipo, qual é a sua composição, quais são os rótulos mais vendidos e por que você deve experimentar uma o quanto antes. Preparado? Fancy a pint? Cheers!

O que é uma cerveja Stout

A cerveja Stout é uma cerveja forte, muito popular em países frios. Essa premissa está explícita em seu nome. É uma cerveja escura, produzida com malte torrado e o amargor puxado para o café. É mais densa e sua espuma produz volume vagarosamente.

Trata-se de um estilo derivado das Porters Irlandesas. “Porters” é como eram chamados os trabalhadores dos portos nas regiões costeiras da Inglaterra e Irlanda. Esses trabalhadores tinham uma preferência pelas cervejas mais fortes e encorpadas, daí o surgimento das Porters.

Como não podia deixar de ser, as Porters possuíam algumas variações, principalmente de graduação alcoólica. As variações mais fortes das Porters eram chamadas de “Stouts”, e daí vem o surgimento das atuais Stouts e seus subestilos.

Cerveja Guinness em Londres
Cerveja Guinness é a maior representante da Stout. Foto: iStock, Getty Images

História da cerveja Stout

No início do século 18, surgiu na Inglaterra um estilo de cerveja escura, feita à base de malte torrado e que se popularizou rapidamente em Londres e seus arredores. Essa cerveja, chamada de Porter, possuía sabor forte, sua espuma demorava mais do que o normal para ganhar volume e, além de menos propícia aos efeitos do calor ambiente, era mais barata do que maioria das outras cervejas.

O estilo conhecido hoje em dia como Stout possui sua história interligada com a das Porters. Ainda na primeira metade do século 18 a produção de Porters transbordou as fronteiras britânicas e começou a ser exportada em grandes quantidades para outros países, com destaque  para a Irlanda. Foi lá que em 1778 um cervejeiro chamado Sir Arthur Guinness começou a fabricar cerveja do tipo Porter em sua cervejaria, na hoje famosa St. James’s Gate Brewery.

Barris de Guinness na fábrica da cervejaria, em Dublin. Foto: Mapa de Londres
Barris de Guinness na fábrica da cervejaria, em Dublin. Foto: Mapa de Londres

As Porters eram populares e fabricadas por todo o Reino Unido e uma grande variedade de tipos e receitas estava disponível para o paladar etílico dos britânicos do século 18. As variações aconteciam principalmente na graduação alcoólica das Porters. E aqui entra o início da História da nossa Stout.

As Porters mais fortes e encorpadas eram conhecidas na Inglaterra daquele tempo como “Stouts”, palavra cujo significado era “forte”.

Ainda existem discussões sobre se a Stout é uma variação da Porter ou se as duas estariam no mesmo patamar da árvore genealógica dos estilos de cerveja. O fato é que as “Stout Porter” acabaram por tomar caminho próprio, se desprendendo da família das Porter e deixando de ser um mero adjetivo para se transformar num novo substantivo, mais encorpado e forte, e com suas subdivisões próprias.

Principais tipos de Stout

Seguindo a conquista de sua “autonomia” em relação às Porters, as Stouts se desenvolveram em vários tipos diferentes ao longo do tempo.

  • Dry Stout ou Irish Stout: A mais conhecida desse estilo de cervejas. Foi desenvolvida na Irlanda e possui sabor torrado puxado para o café. A famosa cerveja Guiness pertence a esse grupo. A maior parte dessas cervejas utiliza primariamente cevada torrada, mas algumas variações também utilizam malte de chocolate ou malte black.
  • Russian Imperial Stout: Também chamada apenas de Imperial Stout, era muito apreciada pelo nobreza russa do século XVIII, sendo exportada pela Thrale’s Brewery de Londres para a côrte da imperadora Catarina II. É a variação mais forte das Stouts. Seu teor alcoólico geralmente está acima dos 9%.
  • Milk Stout: Também conhecida como sweet Stout. É uma versão mais leve e moderada da Stout feita com adição de lactose (portando deve ser mantida à distância por pessoas intolerantes a esse tipo de açúcar). É uma cerveja bastante cremosa, mais leve e adocicada do que a Stout tradicional.
  • American Stout: Os EUA são conhecidos pela quase fixação em cervejas mais amargas e lúpulos fortes. “Quanto mais amargo melhor”, é um pensamento que não pareceria nada estranho na cabeça de qualquer norteamericano apreciador de cervejas. A versão americana da Stout também paga o preço do paladar norteamericano. A adição de lúpulos típicos americanos, cítricos ou frutados, é bem característico das American Stouts. Seu amargor, como consequência, também é bem mais acentuado. Uma boa pedida para quem tem aquele paladar que não tem medo de exagerar nas notas amargas e lupuladas.
  • Oatmeal Stouts: Possui aveia em sua receita ( daí o nome outmeal Stout). Devido a adição desse serial, possui sabor mais leve e também é mais cremosa. Sua cor pode ser marrom escuro até preta bem densa e fechada.
  • Oyster Stout: Como o próprio nome sugere, essa variação possui adição de ostras em sua receita Isso mesmo! O processo de fabricação utiliza ostras para dar o sabor diferenciado dessa cerveja. Algumas cervejarias modernas utilizam sabor artificial de ostras para conseguir o mesmo efeito. De fato, quando as Stouts surgiram no século XVIII, as ostras eram um prato comumente servido nas tavernas e restaurantes de Londres. Mas a Oyster surgiu mesmo no século XX, no ano de 1938, quando a Hammerton Brewery, utilizou esses crustáceos pela primeira vez em seu processo de fabricação.
  • Outros tipos de Stout: Como todas as receitas de cerveja, cada localidade e cultura tende a  agregar algumas características e desenvolver novos estilos a partir de um já existente. Além dos estilos mais famosos e clássicos citados, temos ainda a Baltic Stout, feita nos países bálitcos, e a Chocolate Stout, feita com adição de chocolate e sabor mais adocicado.

5 curiosidades da cerveja Stout

Há coisas que você provavelmente não sabia sobre as Stout e algumas de suas representantes, principalmente a Guinness. Em tempos em que AB Inbev, Diageo, Heineken e outros gigantes da indústria de bebidas dominam o mercado sem piedade, é difícil de imaginar que a Guinness já foi a maior cervejaria do mundo, não é mesmo? Esse é um dos fatos curiosos em torno das Stouts. Vamos conhecê-los!

  1. A Guinness era a maior cervejaria do mundo até 1886. A produção da fábrica em Dublin era de cerca de 1.2 milhões de barris por ano
  2. Quando aconteceu a invasão da França pelas tropas alemãs em 1939, no natal daquele ano a Guinness enviou uma garrafa de cerveja para cada soldado britânico que combatia em solo francês.
  3. O estilo de cerveja mais consumido na Irlanda é a Stout. E não é por uma margem pequena: a Guinness sozinha possui a maior fatia do mercado, e há ainda outras Stouts na lista de mais vendidas.
  4. Tal como na Irlanda, a cerveja Stout mais consumida no mundo é Guinness, atualmente a 6º maior cervejaria do mundo.
  5. A Thrale’s Brewery, que iniciou a produção das famosas Imperial Stouts, não só se orgulhavam de ter como cliente a Imperatriz Catarina II, como usavam largamente o fato para promover a sua marca e o estilo mais forte da família Stout.

Marcas de Stout: além da Guinness

São vários os rótulos que seguem o estilo Stout, e o mais conhecido deles, como você sabe, é a Irlandesa Guinness. No entanto, existem outras opções que não devem ser esquecidas na hora de conhecer esse estilo de cerveja. Vamos apresentar nossa régua de degustação para que você possa escolher alguns dos melhores representantes disponíveis:

Cerveja Guiness

A Guinness é a mais famosa cerveja tipo Irish Stout. Para o Mapa de Londres, é a melhor cerveja do planeta. É uma dry Stout clássica, puxada para o café, amarga na medida certa, com um retrogosto surpreendente. Sua história remonta a 1759. Atualmente a marca pertence ao grupo britânico Diageo, que também é dono de outras importantes bebidas como o whisky Johnny Walker e a cachaça Ypióca.  Pode ser facilmente encontrada em sites especializados e em lojas de cerveja. Alguns supermercados também vendem a Guinness.

Murphy’s Irish Stout

Alguns dizem que esta cerveja stout irlandesa é ainda melhor do que a Guinness. Não concordamos, mas ela chega perto. É produzida com as águas do Rio Lee, em Cork, na Irlanda, e distribuída pela Heineken. Trata-se de um rótulo mais leve do que as principais concorrentes, e o sabor remete a caramelo (mas nada enjoativo).

Wäls Petroleum

Típica representante das Russian Imperial Stout, a mineira Wäls Petroleum é forte, com teor alcoólico na casa dos 12%. Além de ser encorpada, possui um aspecto denso e viscoso que faz jus ao nome que recebeu. Muito facilmente encontrada em Belo Horizonte, sede da cervejaria que pertence atualmente ao grupo Ambev. Pode ser comprada pelo site oficial da Wäls ou em lojas especializadas.

Amazon Beer Stout Açai

Outra representante brasileira, a Stout açaí foi eleita a melhor cerveja do 2º concurso brasileiro de cerveja. A característica principal, como o nome já diz, é a adição de polpa de açaí, fruto amazônico que dá o toque adocicado que harmoniza bem com o sabor torrado característico do estilo. Também pode ser encontrada na maioria das lojas especializadas e na internet.

Invicta Imperial Stout

Também uma Russian Imperial Stout. É fabricada com 5 tipos de maltes e 3 tipos de lúpulo. Mantém o nível das ótimas Imperial Stouts que as cervejarias brasileiras criaram nos últimos anos. Junto com a Petroleum, está entre as melhores Imperial Stouts do Brasil.

Baden Baden Stout

A cervejaria localizada em Campos do jordão, estado de São Paulo, é famosa no Brasil por sua Red Ale e sua Stout. Diferente da maioria de suas irmãs, a Stout da Baden Baden tem notas muito acentuadas de chocolate e café e é mais doce do que um apaixonado por Stouts mais encorpadas está acostumado.

Wensky Bier Lobisomen

Por fim, para fechar nossa régua, um exemplar das American Stouts. Originária de Araucária, estado do Paraná, a Lobisomem da Wensky Bier é fiel ao paladar americano e a todos que gostam de um acento mais pronunciado no amargor da cerveja. Utiliza variedades americanas de lúpulos, a maior parte deles cítricos. Pode ser encomendada no site da fabricante e também é encontrada em todos os sites especializados do país.

Bom, agora você conhece duas marcas irlandesas de cerveja Stout e algumas opções nacionais para preparar o paladar para a verdadeira experiência. Mas lembre que há inúmeros outros rótulos estrangeiros e brasileiros com os quais você pode flertar (antes de se entregar à Guinness, claro).

Agora que você conhece a história, algumas curiosidades, entende a respeito dos principais tipos e características da cerveja Stout, que tal experimentar uma na próxima ida ao pub? Claro que a experiência será melhor em Londres ou em Dublin, mas, até lá, melhor deixar a lager de lado. Cheers!

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