Você já ouviu falar no Ato de Supremacia? Ele é o responsável pela cisão da Igreja Anglicana com a Igreja Católica no século 16.
Esse ato é responsável por tirar do Papa o poder de líder da igreja no Reino Unido. Hoje quem responde por esse papel é o Soberano, a Rainha Elizabeth II.
Neste artigo, vamos entender o que foi o Ato de Supremacia e como ele foi importante para a instituição da Igreja Anglicana e consolidação da Monarquia Inglesa. Se você gosta da série Os Tudors, saiba que o personagem principal de nosso texto também é a mesma estrela da série: Rei Henrique VIII.
O que foi o Ato de Supremacia?
Na história da Inglaterra, existem dois Atos de Supremacia. O primeiro, mais famoso e importante, é de 1534. O segundo foi aprovado 1559. Ambos guardam as mesmas características e objetivos.
Os Atos de Supremacia foram leis aprovadas na âmbito do parlamento inglês por meio dos reis Henrique VIII (primeiro ato) e Isabel I (segundo ato). Os dois atos representam uma reforma da Igreja na Inglaterra, transferindo o controle e poder religioso da Igreja Católica em Roma para o monarca inglês.
O primeiro Ato de Supremacia transformou Henrique VIII em “Chefe Supremo da Igreja” e deu forma à atual Igreja Anglicana, até hoje a instituição religiosa na Inglaterra. De maneira geral, a “supremacia real” que o ato criou, significa que as leis civis do país estão acima das leis da Igreja na Inglaterra.
Já o segundo Ato foi instituído por Isabel I e nada mais foi do que a restauração do primeiro ato aprovado por Henrique VIII. A filha de Henrique VIII, Maria I, era católica romana, e durante o seu reinado de 1553 a 1558, havia revogado o primeiro ato de supremacia. Isabel I, que assumiu o trono com a morte de Maria I e governou até sua morte em 1603 restaurou a supremacia Real e foi um pouco além.
Na lei aprovada por Isabel I, foi instituído também o Juramento de Supremacia. Todo cidadão inglês que assumisse um cargo público ou na igreja era obrigado a jurar fidelidade ao monarca como chefe de estado e da Igreja. A recusa em tomar o juramento resultava em acusação de alta traição e era severamente punida.
Sir Thomas More, autor do famoso livro Utopia, foi um dos católicos romanos que se recusou a tomar o juramento. Como consequência, foi preso e decapitado por alta traição. A sua história é inclusive contada no filme O homem que não vendeu sua Alma, um clássico de 1966.
As origens do Ato de Supremacia
A história do primeiro Ato de Supremacia é muito interessante. Por ser uma trama que ficou famosa e também um pouco escandalosa, já foi retratada no cinema e televisão algumas vezes.
Henrique VIII governou a Inglaterra entre os anos de 1509 e 1547. A sua primeira esposa era a viúva de seu irmão, Catarina de Aragão, Princesa da Espanha e fortemente ligada a Igreja Católica. Os monarcas espanhóis eram grandes aliados da Igreja Católica sediada em roma, e esse fato ajudou na trama que culminou na independência da Igreja Anglicana e no Ato de Supremacia de 1534.
O primeiro casamento foi autorizado pelo Papa Júlio II. No entanto nem tudo correu bem para o mais novo casal real. Henrique VIII e Catarina tiveram Maria I como única filha. Insatisfeito com o fato de não ter um filho homem (para garantir uma transição tranquila de poder mais tarde), o rei decidiu em 1527 se divorciar da cônjugue espanhola.
O objetivo do divórcio era permitir a Henrique que se casasse com Ana Bolena, sua pretendente à mãe de seu primeiro filho homem. No entanto, o divórcio deveria ser aprovado pelo Papa Clemente VII, que por sua vez era muito próximo e ligado ao imperador Carlos V, sobrinho de Catarina e também apoiador da Igreja Católica e seus princípios.
Só que o pedido de divórcio foi negado, dando início a uma crise entre a monarquia inglesa e a Igreja Católica em Roma. Nesse contexto, Henrique VIII começou a promover uma política antieclesiástica aberta dentro da Inglaterra.
Repudiando a determinação do Papa, Henrique deu prosseguimento ao casamento com Ana, o que resultou na sua excomunhão pelo Papa em Roma. Como resposta à atitude de Clemente VII, Henrique rompeu por completo com a Igreja Católica e promoveu a independência à Igreja Anglicana, instaurada oficialmente com o Ato de Supremacia de 1534. A partir dali o monarca inglês passou a ser chefe da igreja na Inglaterra, além de chefe de estado e de governo.
Importância e reflexos atuais
Os atos de Supremacia representaram um dos primeiros passos na direção de colocar as leis civis do país acima das leis da Igreja Católica sediada em Roma. Nesse sentido, representou uma importante reforma religiosa e contribuiu para a consolidação do absolutismo da monarquia inglesa e para o enfraquecimento da Igreja Católica no século 16. Lembre-se que na mesma época estava em curso a reforma protestante, movimento que teve início com Lutero em 1517 e que viria a ser um importante questionador do poder e preceitos tradicionais da Igreja de Roma.
Outro reflexo fundamental e que até os dias de hoje é presente em nosso mundo foi a fundação da Igreja Anglicana. A Igreja da Inglaterra, como também é chamada, é a igreja nacional oficial no país da rainha.Em outros países, principalmente no continente americano, a Igreja Anglicana é chamada de Igreja Episcopal, e possui várias instalações e missões em vários países, inclusive no Brasil.
A Igreja Anglicana atualmente
Até hoje, a Igreja Anglicana não responde ao Papa ou à fé católica, embora seja uma religião de preceitos bastante parecidos.
Ela descreve o seu perfil atual desta forma: “É uma religião que conscientemente reteve grande parte das tradições antigas, credos católicos, padrões de missas, igrejas e aspectos de sua liturgia, mas que também incorporou elementos protestantes em sua teologia e na forma de sua prática litúrgica”.
Em Londres, uma das principais igrejas anglicanas é a Abadia de Westminster, onde são realizadas as coroações britânicas há mil anos. Você pode visitar o local e até assistir a uma missa. Clique na foto abaixo para saber mais informações:
E aí, curtiu entender mais sobre o Ato de Supremacia e a história curiosa da Igreja Anglicana? Comente.