Estou em Bethnal Green Road a caminho de casa. Para me proteger da chuva, entro no primeiro pub que encontro. Há pouquíssimas pessoas aqui dentro: a minha frente, o bartender e um inglês gordinho; a minha esquerda, longe do bar, um pessoal gritando para ver quem começa na sinuca. O gordinho não para de me encarar. Peço uma Stella para o bartender. Ele serve e diz que custa 3,50. Dou uma nota de 20 e noto que o gordinho continua olhando. Quando dou o primeiro gole, ouço: “You know, he likes you” (Você sabe, ele gosta de você). Olho para o lado, e o gordinho está com um sorrisão aberto para mim e o dedo apontado para dentro do bar. Espio por cima do balcão e vejo um cachorro gigante, marrom, deitado. Ele me explica que esse é o cachorro do pub, e que sempre late quando entra um desconhecido. Mas não latiu para mim. Antes que eu possa comentar qualquer coisa, o cachorro se levanta abruptamente. Barulho na porta. Olho para o lado e vejo um homem de dois metros, grisalho, barriga proeminente. Ele dá um passo para frente, abre os braços e diz, olhando para o gordinho: “I’m free, I’m free”. O gordinho dá risada e o cumprimenta. O recém-chegado mira o bartender e revela: “I’m a bit drunk” (Estou um pouco bêbado). Enquanto o bartender começa a servir uma taça de Stella para alguém (não sei se para o amigo bêbado ou para si mesmo), ouve-se a porta, e o cachorro levanta novamente. Aparece então uma mulher com cabelos muito bagunçados, óculos desproporcionalmente grandes e uma calça com bolinhas rosas: “Henry, dear, why did you leave me?” (Henry, querido, por que você me abandonou?). O recém-chegado, já com a pint de Stella na mão, olha para ela e responde: “Oh, you’re still here?” (Ah, você ainda está aqui?). A chuva diminui, eu cumprimento o gordinho e volto para casa, depois dessa parada de 15 minutos no pub.