Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra se encontrava em um dilema quanto ao seu futuro arquitetônico e urbanístico: seguir com a revalorização dos seus estilos tradicionais ou abraçar o movimento modernista que ganhava forças em outros países – como França e Alemanha – através das suas características universais? Na dúvida, optou pelos dois. Diferentemente dos seus vizinhos, e de uma forma bem britânica, adequou o clássico à nova realidade.
Texto e fotos: Flávio F. Moreira
Desde o século 19, a Inglaterra vinha experimentando um revivalismo historicista conhecido como Arts and Crafts (e/ou Queen Anne), no qual o resgate de antigos estilos da arquitetura nacional, como o Tudor e o de Christopher Wren – arquiteto responsável pela reconstrução de Londres após o grande incêndio de 1666 – funcionava como uma fuga da mecanização e das padronizações construtivas do então período industrial. Entre os exemplares deste “neo-Wren”, estão o Offices of the Commissioners of Woods and Forests, em Whitehall, e a loja de departamentos D.H. Evans & Co., na Oxford Street, ambos do arquiteto John Murray e construídos em 1910.
A partir da década de 1920, o gosto pelo rebuscado Arts and Crafts começou a decair em detrimento do Georgiano (original dos séculos 18 e 19), mais sóbrio e simétrico, que acabou por se tornar o estilo arquitetônico dominante na Inglaterra do entreguerras. O exemplar mais marcante desse período é o conjunto de edifícios da Grosvenor Square, em Mayfair. Embora tivesse defensores que o caracterizavam como um estilo que, por ser funcional e pouco ornamentado, dialogava com o modernismo, foi menosprezado pelos adeptos desse movimento por ainda ser historicista e, portanto, retrógrado.
Incorporando novas tecnologias, o movimento modernista defendia uma arquitetura racional e limpa que, sem identidades culturais específicas, poderia ser aplicada em qualquer lugar. Em Londres, o Daily Express Building, de Ellis and Clark, de 1932, o Lawn Road Flats, em Hampstead, também conhecido como Isokon Building, projeto de Welles Coates, de 1934, e o Ibex House, de Fuller, Hall and Foulsham, de 1937, são alguns dos poucos edifícios expressivos dessa corrente, nesse período. Outro exemplar, e esse bem de acordo com o modernismo conservador inglês, também graças as suas janelas Georgianas, é a Broadcasting House, projeto de George val Myer, de 1932, para a BBC. Curiosamente, grande parte das construções modernistas da época estava em balneários litorâneos que propunham uma “fuga da Inglaterra real” por meio desse novo estilo que não era levado a sério.
No que se refere ao urbanismo desse período, a revalorização do passado também foi protagonista. A intensa e caótica urbanização que vinha ocorrendo no país desde o século anterior, decorrente da industrialização, acabou gerando um fenômeno bucólico de resgate do estilo interiorano tradicional através da ocupação dos arredores das cidades. Espaços abertos, jardins, ruas curvas e casas com arquitetura tradicional compunham o que ficou conhecido como Garden Cities, ou Cidades Jardim, conceito criado por Ebenezer Howard. A primeira a ser estabelecida foi a Letchworth Garden City, ao Norte de Londres, seguida pela Hampstead Garden Suburb, no bairro de Hampstead.
Assim, nessa evolução tradicionalista, Londres e a Inglaterra acabaram por trilhar um caminho próprio que, louvável ou não, ao menos contribuiu para a manutenção das suas (eternas?) peculiaridades.
Texto e fotos: Flávio F. Moreira
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