A primeira vez em Londres. Tá aí uma sensação difícil de esquecer.
Acordei cedo, após o meu relógio de pulso despertar os três colegas de quarto do albergue onde eu estava hospedado, em Bayswater, bem próximo ao Hyde Park. Esfreguei os olhos, ainda tentando dimensionar com exatidão o local onde eu me encontrava e quais seriam os meus próximos passos. Então apanhei a mochila e verifiquei, com medo, se o passaporte, a carteira e outros documentos ainda estavam ali. Debaixo da cama, tirei a mala e agarrei as primeiras calça, camiseta, cueca e meias que achei, além de toalha, xampu, sabonete e todos os acessórios para a manutenção de uma higiene adequada.
Era o primeiro dia de aula de inglês, e eu tinha poucos minutos para me arrumar. Queria sair com antecedência do albergue, a fim de usufruir de alguns minutos para me coordenar no trajeto até a escola, aonde eu precisava chegar antes das 9h. A jornada até a Oxford House College incluía uma caminhada de cinco minutos até a estação Queensway e um deslocamento de duração até então desconhecida até Oxford Circus, com a Central Line.
Liguei o chuveiro e fiquei muito contente com as primeiras gotas de água que caíram, já que elas aplacaram amplamente a sensação de frio captada no corredor estreito que ligava o quarto ao banheiro. A calefação logo ajudou a esquecer o inverno lá de fora e a possibilidade iminente de neve. Com a mente encoberta pela água quente, pelo vapor e pela imaginação dos acontecimentos incríveis que ainda me acometeriam ao longo dos primeiros dias na capital britânica, demorei mais do que o esperado e saí do banho com atraso.
Depois de buscar blusão, casaco e luvas no quarto e receber bom dia com sotaques de três nacionalidades diferentes, comecei a jornada rumo à estação de metrô. Só tinha uma coisa em mente: tomar uma coca-cola. Na época, era completamente viciado pelo refrigerante e costumava principiar as manhãs com o líquido mágico em sua embalagem mais sedutora: a latinha vermelha. Mas não achei máquina de refrigerantes na estação de Queensway e tive de seguir a jornada sem esse aditivo gasoso.
“Mind the gap between the train and the platform”. A frase me marcou desde a primeira audição. Eu gostava de repeti-la mentalmente, com distintas entonações. E a pronunciei de 15 formas durante o curto trajeto do trem até Oxford Circus, no qual me mantive em pé lendo furtivamente as manchetes dos principais jornais londrinos de diversas fontes e direções diferentes.
Logo o mundo inteiro saiu do trem comigo. Mesmo ciente de algumas regras, como não parar no meio da estação com um mapa na mão e jamais parar do lado esquerdo na escada rolante, eu estava nervoso. Mas foi só quando eu dei os primeiros passos para fora da estação que eu senti. Acho que para cada pessoa acontece em um momento diferente. E acho que o que acontece nunca é igual.
Eu estou em Londres. Eu estou em Londres. Eu estou em Londres. Londres, Londres, Londres. O pensamento me atingiu com tamanha intensidade, que quase caí ao notar um ônibus de dois andares a poucos metros (e que parecia chegar próximo demais da calçada), na junção das ruas Oxford Street e Regent Street. Com o coração batendo mais rápido, os olhos arregalados, a respiração dificultada pela necessidade maior de oxigênio, caminhei morosamente para o lado, até avistar uma lojinha que poderia me ajudar. As moedas se transformaram em uma latinha vermelha, a qual promoveu uma sensação de alívio que perdurou até o início da aula e o início de uma viagem que mudaria minha vida para sempre.
E você: em que momento você percebeu que realmente estava em Londres? Ou, para ser mais preciso: quando foi que caiu a ficha? Como foi a sua primeira vez? Deixe um comentário contando a sua experiência de arrebatamento em londres.