Historicamente, Londres divide a paternidade dos clubes privados, também conhecidos como Gentlemen’s Clubs (Clubes de Cavalheiros), com Nova York. Os clubes mais tradicionais da cidade – e do mundo, portanto – foram criados por membros da aristocracia britânica no século 18.
Fechados a mulheres, visitantes e curiosos, os locais destinavam-se a criar ambientes propícios para que seus membros pudessem relaxar longe de suas esposas, estabelecendo laços de nobreza. Além do foco no lazer, os clubes abrigavam reuniões de negócios e permitiam uma troca de experiências entre os nobres londrinos.
Gentlemen’s Clubs reúnem pessoas com os mesmos interesses
A grande maioria dos cavalheiros era associada a apenas um clube, escolhendo aquele que melhor representasse seus interesses políticos e econômicos. Poucas pessoas pertenciam a mais de um clube: o recorde pertence a Earl Mountbatten, um político e oficial da Marinha Britânica, que chegou a estar associado a dezenove clubes nos anos 60.
Embora muitos dos Gentlemen’s Clubs tenham se adaptado com o passar dos séculos, tornando os ambientes mais modernos e menos ortodoxos – a ponto de aceitar, inclusive, mulheres entre os membros -, boa parte deles mantém a tradição e continua inacessível a visitantes e turistas.
E o acesso não é o único entrave para um curioso que deseja adentrar um dos clubes: a maioria deles não possui qualquer identificação na fachada. Mas, se você quiser perambular pelos arredores da aristocracia, a dica é se deslocar até Pall Mall, que reúne muitos deles.
Confira uma lista com alguns dos mais célebres clubes privados de Londres:
The Athenaeum
Fundado em 1824, o clube chama a atenção pela arquitetura. O mais impressionante é que o edifício foi projetado por um arquiteto de apenas 24 anos, que já havia alcançado notoriedade na época pelo seu trabalho no Hyde Park e no Regent’s Park.
Historicamente, o clube foi pensado para reunir grandes mentes da capital inglesa. Alguns de seus membros mais notórios são Charles Dickens, o mais popular dos romancistas ingleses da era vitoriana; Charles Darwin, o cientista da teoria da evolução; e Michael Faraday, um dos cientistas mais influentes de todos os tempos, responsável pela descoberta da indução eletromagnética, por exemplo. A cadeira de rodas na qual Faraday morreu em 1867 é mantida no clube até hoje, sendo exposta em uma das salas principais.
Um outro símbolo interessante da história do clube se encontra em frente ao prédio, despercebido pela maioria dos transeuntes:
Estes dois blocos de pedra foram erigidos em 1830 para que um de seus mais ilustres membros, o baixinho Duque de Wellington, aquele que derrotou Napoleão na Batalha de Waterloo, não passasse vergonha ao tentar desmontar do cavalo.
A presença de membros tão distintos foi fundamental para que o local fosse um dos primeiros a receber iluminação elétrica na história da humanidade, por meio de um gerador próprio, anos antes da luz chegar às ruas de Londres. Ao todo, cinquenta e dois prêmios nobeis são contabilizados entre os integrantes do clube.
Atualmente, a maioria dos membros é composta por profissionais dedicados à ciência, engenharia ou medicina, mas advogados, escritores e acadêmicos também estão representados. Empresários, executivos e políticos são minoria no clube.
Boodle’s
Fundado por Lord Shelburne em 1762, vinte anos antes de ele vir a se tornar Primeiro Ministro, o Boodle’s é um dos mais antigos clubes privados de Londres – e do mundo.
Entre seus membros mais notórios, estão Winston Churchill, que se associou após a Segunda Guerra; Adam Smith, o mais importante teórico do liberalismo econômico, considerado o pai da economia moderna; Ian Fleming, jornalista e escritor responsável pela criação do personagem James Bond; e Beau Brummel, o Dandy, que revolucionou a maneira como os homens vestiam-se durante a Regência Britânica.
O clube não aceita mulheres entre seus membros e tampouco convidados.
Reform club
O Reform Club foi fundado em 1836, sendo restrito, na época, aos apoiadores do Great Reform Act, um ato do parlamento que provocou mudanças no sistema eleitoral do Reino Unido. Entre seus membros mais notórios, está sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes.
O local serviu como cenário para produções como “The Avengers” (1998) e “Sherlock Holmes” (2009). Além disso, ficou conhecido por aparecer em Volta ao Mundo em Oitenta Dias, livro de Júlio Verne cuja história começa e termina no clube.
Em 1981, tornou-se o primeiro dos Gentlemen’s Clubs a aceitar mulheres entre seus membros. O clube é relativamente acessível a visitantes, desde que os interessados organizem grupos e entrem em contato com antecedência. Outra opção de visitação se dá durante a Open House London, quando, a exemplo de outros edifícios, o local abre suas portas.
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Fotos: Gustavo Heldt
Texto: Daniel Rohr
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