Cenas de pub I

Estou em Bethnal Green Road a caminho de casa. Para me proteger da chuva, entro no primeiro pub que encontro. Há pouquíssimas pessoas aqui dentro: a minha frente, o bartender e um inglês gordinho; a minha esquerda, longe do bar, um pessoal gritando para ver quem começa na sinuca. O gordinho não para de me encarar. Peço uma Stella para o bartender. Ele serve e diz que custa 3,50. Dou uma nota de 20 e noto que o gordinho continua olhando. Quando dou o primeiro gole, ouço: “You know, he likes you” (Você sabe, ele gosta de você). Olho para o lado, e o gordinho está com um sorrisão aberto para mim e o dedo apontado para dentro do bar. Espio por cima do balcão e vejo um cachorro gigante, marrom, deitado. Ele me explica que esse é o cachorro do pub, e que sempre late quando entra um desconhecido. Mas não latiu para mim. Antes que eu possa comentar qualquer coisa, o cachorro se levanta abruptamente. Barulho na porta. Olho para o lado e vejo um homem de dois metros, grisalho, barriga proeminente. Ele dá um passo para frente, abre os braços e diz, olhando para o gordinho: “I’m free, I’m free”. O gordinho dá risada e o cumprimenta. O recém-chegado mira o bartender e revela: “I’m a bit drunk” (Estou um pouco bêbado). Enquanto o bartender começa a servir uma taça de Stella para alguém (não sei se para o amigo bêbado ou para si mesmo), ouve-se a porta, e o cachorro levanta novamente. Aparece então uma mulher com cabelos muito bagunçados, óculos desproporcionalmente grandes e uma calça com bolinhas rosas: “Henry, dear, why did you leave me?” (Henry, querido, por que você me abandonou?). O recém-chegado, já com a pint de Stella na mão, olha para ela e responde: “Oh, you’re still here?” (Ah, você ainda está aqui?). A chuva diminui, eu cumprimento o gordinho e volto para casa, depois dessa parada de 15 minutos no pub.

Mala nova em Londres

Precisa de uma mala nova depois de exagerar nas compras na Primark? Não tem problema. Em Londres, dá para comprar malas que vão custar mais do que toda a viagem, mas também é possível adquir algumas por preço bem razoável.

Em pesquisa do Mapa de Londres durante o mês de maio, as malas mais baratas encontradas foram em:

Lilywhites, em Piccadilly (ao lado da estátua de Eros)

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28 libras por uma mala de 100 litros (é grande!) da Dunlop.

Primark, na Oxford Street (estação Marble Arch)

35 libras por uma mala de 100 litros de marca própria.

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Sports Direct, em diversas localidades

As malas são baratas, dentro da faixa de preço da Primark, mas não havia opções tão grandes.

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Jornais no metrô

Já parou para pensar por que todos os passageiros do metrô que não possuem fones nos ouvidos estão escondidos por grandes capas de jornais?

É porque a Inglaterra tem uma grande tradição no jornalismo. E em Londres, você tem acesso a alguns dos periódicos mais renomados do mundo.

Muitas vezes, pode-se aprender muito com uma rápida leitura de jornal. Nada melhor do que entender aspectos e referências culturais de um povo e de uma cidade durante a viagem.

Por isso, não deixe de escolher um em alguma banca (normalmente na saída das estações de metrô). O melhor é passar os olhos na capa, ver o que mais agrada e pagar o valor, que varia de alguns centavos a 1,30 libra.

Eu prefiro o Guardian, devido à qualidade dos textos e das imagens. Mas há diversos outros, como The Times, Daily Mirror, Telegraph, Observer…

Se não quiser gastar, não tem problema. Há dois jornais gratuitos que são distribuídos na entrada das principais estações de metrô, o Metro (matinal) e o Evening Standard (vespertino). Pegue sem medo e junte-se à turba leitora que pulula pelos trens da cidade.

Londres, o paraíso do energético

Londres, o paraíso do energéticoÉ interessante destacar alguns aspectos peculiares de Londres que são pouco mencionados pelos veículos tradicionais de turismo. Por exemplo, o energético. Londres é o paraíso do energético, e ninguém fala sobre o assunto.

Como assim, você pergunta. No Rio Grande do Sul, uma latinha de 250 ml de energético Red Bull custa, aproximadamente, 7 reais em supermercados e de 9 a 14 reais em lojas de conveniência e bares. Em Londres, por outro lado, o energético não é tratado como um produto superior e se equipara, na faixa de preço, a qualquer outro refrigerante.

Neste momento, por exemplo, paguei 1,30 libra por um Red Bull em um barzinho na saída da estação de Temple. Em supermercados, os preços não são muito diferentes, mas dá para encontrar a mesma bebida por 1 libra.

Outras marcas, então, ostentam preços ainda mais atraentes. A lata de 500ml do Monster pode ser adquirida por 1 libra, em promoção, no Sainsburys. No Asda, há deals para todos os gostos, e energéticos de marca própria por pouquíssimos centavos.

Então, se você curte energético e deixa de beber no Brasil por causa do preço, desembarque contente no Heathrow, já à cata de um Red Bull.

(Este post não é patrocinado nem te dá asas.)

Mind the…

Mind the...

Quem já andou de metrô em Londres sabe que, quanto mais pressa o sujeito demonstra, mais londrino ele parece.

Estação de Metrô de Baker Street
Estação de Baker Street

A ideia, então, é nunca ficar parado na escada rolante, e sim galgar cada degrau como se o segundo poupado pelo esforço fosse definitivo para a obtenção de um lugar no trem e a única chance de sobrevivência no subterrâneo.

Essa mentalidade, no entanto, acarreta algumas situações desastrosas.

É comum, por exemplo, que homens de terno e pasta na mão usem a pasta para bloquear o fechamento da porta e, assim, buscar a pouco sorrateira entrada no trem já quase em movimento.

Muitas vezes, a tática falha desastrosamente, a porta fecha mesmo assim e o homem de terno tem que sair correndo atrás da pasta, do trem e, depois, do funcionário do metrô, que vai lhe dar uma encarada altamente punitiva.

Nesse caso, o homem ajeita o terno, se lamenta, xinga o funcionário do metrô, olha para o relógio, verifica o estado da pasta, tadinha, e espera dois minutos pelo próximo trem.

Ele não imagina que a pressa pode acarretar desastres muito, muito maiores.

Um deles eu presenciei hoje, nos primeiros minutos da madrugada de terça para quarta-feira.

Depois de uma sessão de mais de 100 fotos de ônibus de dois andares em pontos estratégicos da Oxford e da Regent Street, guardei a câmera na mochila e rumei para a estação de metrô de Piccadilly Circus disposto a encerrar o dia de trabalho.

Segui o caminho até o trem, entrei e sentei à frente de uma garota morena, que mexia em um iPad e guardava, aos pés, uma mala de rodinhas. Assim que o trem chegou a Holborn, notei que ela arregalou os olhos e guardou rapidamente o iPad em sua bolsa.

Em um segundo, levantou-se, equilibrou a bolsa no ombro, puxou a alça da mala e correu em direção à porta, prestes a fechar. Conseguiu, pensei, antes de ouvir um barulho e espiar para trás, pela janela.

Lá estava a mala, resoluta, em pé. A bolsa, porém, com o iPad aparecendo, jazia ao seu lado, no chão. E diversos centímetros distante da bolsa, encontrava-se a garota, prostrada.

Ao seu redor, a vilã: uma poça de vômito.

Logo pensei em ajudá-la, pois ela tinha a mão posicionada no tornozelo e se contorcia de dor. Mas, quando levantei, já havia um grupo próximo, na plataforma.

Um deles explicava o que ocorrera a um funcionário do metrô. Assim, me contive e voltei a me sentar.

Olhei para o lado, certo de que todos no vagão estariam consternados pelo incidente. Mas me enganei. O que eu vi foi o seguinte:

1) Um casal de indianos brigando;

2) um homem de uns 40 anos, que poderia ser confundido com um mendigo se de fato não o fosse, que tinha a boca aberta, os olhos fechados e um ronco bastante grave;

3) um garoto com fones que não só tapavam suas orelhas, como cobriam quase toda a sua cabeça;

4) Uma mulher de nariz muito pontudo, que tinha os olhos estagnados em um ponto fixo.

Em poucos segundos, tive a certeza de que ninguém mais havia visto o lamentável escorregão da mulher apressada.

Por isso, venho escrever este texto.

Que fique o aviso: só se fala Mind the Gap porque muita gente já teve problemas com o Gap, e só se fala Mind the closing doors porque toda hora alguém fica preso na porta.

Espero que a cena de hoje não se repita, senão você sabe o que vai acontecer. E Mind the Puke (ou the Vomit), imagina, não pega bem.

God Save The Queen

God Save The Queen
Regent's Street decorada para o Jubileu da Rainha

O vermelho, o branco e o azul da Union Flag, a bandeira do Reino Unido, ganharam as ruas de Londres nos últimos dias para simbolizar as festividades do Jubileu de Diamante da Rainha. O evento, que celebra os 60 anos de Elizabeth II no trono britânico, começa neste final de semana e segue até terça, quando se encerra o feriado bancário. O ápice da festa é no domingo: mais de mil barcos desfilarão pelo Rio Tâmisa em uma procissão Real como há décadas não se vê, com direito a muitos acenos da monarca e – pode-se pressupor – uma porção súditos desmaiando. Mais de um milhão deles deve ir às ruas para celebrar, a maioria se acotovelando às margens do rio para acompanhar o evento.

Na verdade, a alegria já tomou conta das vias da cidade. Às 22h40 desta sexta, em Leicester Square, havia uma movimentação mais intensa do que em fins de semanas anteriores. A maior diferença, no entanto, era a empolgação dos súditos da Rainha, que ostentavam suas cervejinhas para lá e para cá em um frenesi descontraído e pouquíssimo relacionado à realeza e suas vicissitudes. Felizes pelo feriado que se lhes descortina à frente.

A temperatura está nas alturas. Na última semana, o ponteiro relutou em cair: fez muito calor, o sol cobriu a cidade toda e a chuva, tão britânica e tão presente no mês passado, nem deu as caras. Por todos os lados, entre anúncios de lojas, manchetes de jornal e ecos do prefeito Boris Johnson, anuncia-se o início de “um verão como nenhum outro”.

O princípio dessa temporada inigualável pode ser determinado pelas badaladas do Big Ben às 17h desta sexta-feira, quando a maioria dos escritórios fechou as portas e mandou para casa e para o pub funcionários que só voltarão na quarta-feira, depois de um Jubileu de piqueniques no parque, farras homéricas, muitos God Save The Queen e mil barcos desfilando pelo Tâmisa, a maior frota reunida em 350 anos.

A festa fluvial de domingo não é a única comemoração dos 60 anos no trono. Ao longo dos próximos cinco dias, haverá também cerimônia religiosa na St Paul’s Cathedral, show de diversos artistas em frente ao Palácio de Buckingham, mais de 2 mil festas de rua, entre muitas outras atrações espalhadas pela cidade. Essa efusividade prevista pode empolgar a Rainha, mas preocupa o departamento de trânsito da capital britânica. Placas nas estações centrais de metrô avisam: pode haver interrupção de linhas, fechamento de estações e muito congestionamento.

Quando os súditos da Rainha acordarem na quarta-feira, ainda inebriados de sono e conturbados pelo feriadão festivo, terão a sua frente dois meses de trabalho – e ansiedade, talvez – antes que mais um evento invada a cidade e consagre esse “verão como nenhum outro”. A torcida será, mais do que pelos atletas britânicos que disputarão as Olimpíadas, pela integridade de Londres, cidade que vive uma ebulição cultural e que teme pelo caos urbano. God save the Queen.

Britânicos se interessam mais pelo Jubileu do que pelas Olimpíadas

Os britânicos estão mais empolgados com a festa do Jubileu de Diamante da Rainha do que com os Jogos Olímpicos. É o que constata uma pesquisa revelada hoje pelo YouGov. De acordo com o instituto, 23% dos britânicos estão ansiosos para assistir ao desfile de barcos no Rio Tâmisa neste domingo. Enquanto isso, 21% prefere as Olimpíadas. Ao total, 52% da população do Reino Unido afirma que acompanhará o evento deste domingo pela televisão.

Britânicos se interessam mais pelo Jubileu do que pelas Olimpíadas
Covent Garden já está preparada para o Jubileu

Como passar o tempo em Greenwich

Como passar o tempo em GreenwichDepois de um dia inteiro compreendendo os meandros do tempo, captando os melhores momentos da navegação marítima, passeando pelo parque e pensando a respeito da fila que existe para a fotografia na linha do meridiano de Greenwich, no Observatório Real de Londres, vejo um grupo muito animado a minha frente, já quase na estação de Cutty Sark.

São uns 10 homens de camisa social e cerveja na mão. Estão todos dando risada, animados. Um deles, além da cerveja, tem um controle remoto. No chão, aos seus pés, encontra-se um carrinho, do tamanho da palma da mão de uma criança minúscula.

Enquanto um brinquedinho daquele tamanho faz a alegria de 10 homens de camisa social, eu perco tempo pensando em GMT.

Saiba mais

Greenwich Park

Observatório Real de Greenwich

Museu Nacional Marítimo

Não é só a cerveja que é quente

Não é só a cerveja que é quente
Ele queria uma bebida gelada

Infelizmente, os amantes da Coca-Cola gelada sofrem no verão londrino. Isso porque não é apenas a cerveja que fica em temperatura ambiente. Nos mercados e supermercados, a Coca até se situa em uma área refrigerada, mas não atinge a temperatura ideal. Embora não seja morna, flerta perigosamente com essa condição.

Em outras épocas do ano, essa situação não preocupa, pois a temperatura exterior não deixa a Coca esquentar. Então a solução é viajar para Londres no inverno ou procurar bem no freezer do supermercado, afinal sempre há um refrigerante em temperatura mais agradável do que os outros.

Boa sorte.

Mais observações do cotidiano de Londres

Esquilos no St James’s Park

São 16h de uma segunda-feira de maio. Estou passeando pelo St James`s Park, com a câmera apontada para uns oito cenários ao mesmo tempo, admirado com a beleza e a tranquilidade do lugar. Há muita gente deitada na grama, escorada em árvore, observando o lago, trocando carinhos com o companheiro e lendo livros.

No momento em que ajusto o foco em uma grande árvore que serve de amparo para um casal de mãos dadas, porém, o espírito contemplativo e a calma proporcionados pelo ambiente são estraçalhados pelo susto: uma pressão na perna, como se alguém a estivesse puxando com as mãos.

Quase.

Eu olho para baixo, temeroso, e vejo um esquilo escalando o meu joelho. Com um movimento brusco, espanto o bicho, que busca conforto em um homem ali ao lado.

O homem estende a mão, recebe o esquilo em sua palma e lhe dá alguma comida que não consigo identificar. A foto fica bonita, mas me sinto derrotado.

Esquilos no St James's Park
Foto: Gustavo Heldt, Mapa de Londres

Mais sobre o St James’s Park

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